“Agradeço a Deus por
ter nascido e ter me tornado gente aqui”
Em entrevista exclusiva,
Íris Rezende fala sobre a infância na cidade e o aprendizado cristão que
conduziu sua biografia
Íris Rezende Machado completa no próximo
dia 22 de dezembro, 80 anos. Destes, 55 são dedicados à militância política, os
outros 15 são exclusivamente consagrados à sua formação acadêmica e à história
de sua infância vivida em Cristianópolis. São momentos relembrados por ele com
carinho e disposição. Uma história de vida que ele se orgulha, não pelo fato de
ser simplesmente um cristianopolino, mas por ter adquirido aqui o caráter, a
moral e a dignidade que guiou sua carreira política.
Por
essa consideração, Íris recebeu a equipe da Folha de Cristianópolis em sua residência. A vontade em falar sobre
as raízes era visível e, por isso, as linhas traçadas aqui são diferentes de
tudo o que você já leu sobre ele em outros jornais. Fazendo de suas origens, o
foco de nossa conversa, os depoimentos foram mais sinceros e os testemunhos
tornaram-se fundamentos a se levar para sempre. E isso não o impediu de afirmar,
na entrevista concedida ao jornalista Rafael Ceciliano, sua fraternidade com os
conterrâneos, o seu descontentamento com a evolução do Estado e a possibilidade
de voltar ao pleito.
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Qual a importância de Cristianópolis,
a sua cidade-natal, na sua vida?
Eu
tenho uma consciência límpida. Não seria o que fui, não teria alcançado as
posições que alcancei se não tivesse nascido em Cristianópolis. Tivesse eu
nascido naquela época em outra comunidade, não teria sido o homem que sou.
Nasci em um ambiente dotado de muito pureza de vida, propósitos, aproximação de
Deus, praticamente com a bíblia na mão. Eu era menino e de manhã participava do
culto doméstico, era um dever de cada família. Cresci com o sentimento de
compromisso com Deus e a pessoa que se acha comprometida com o Evangelho, erra
menos e procura mais a perfeição de comportamento de vida. Devo muito do que
sou a essa querida comunidade, sobretudo às gerações passadas, que influíram na
minha formação.
Na maioria das vezes, o
ego da cidade-natal de qualquer político é mais elevado quando ele alcança o
ápice da vida pública. É assim com Jataí e Maguito; é assim com Palmeiras de
Goiás e Marconi; é assim com Cristianópolis e o senhor. Geralmente essas
cidades também reclamam da ausência de seus filhos ilustres por acharem que
eles a abandonaram. O senhor abandonou Cristianópolis?
É
natural que as gerações que chegam, desconhecendo o que era a comunidade antes
da minha chegada ao Governo de Goiás, façam esse julgamento. Procurei dispensar
à Cristianópolis toda a minha atenção, não apenas como governador, mas como
filho daqui. Tanto é que Cristianópolis se tornou uma cidade dotada de água
tratada, com uma pequena vila para atender pessoas que não tinham casa, tive a
ousadia de comprar um terreno e construir uma agência do Banco do Estado de Goiás
(BEG) e ao mesmo tempo, a primeira estrada que asfaltei foi de Bela Vista à
Catalão. Foi um dos momentos de maior emoção da minha vida quando, se
aproximando de Cristianópolis, eu deixei a cabine do carro e fui para a
carroceria de uma caminhonete só para viver intimamente e agradecer a Deus
aquele momento onde o filho de Cristianópolis estava facilitando a locomoção do
povo. Depois do governo, no Ministério da Agricultura, após o segundo mandato e
com minha volta a Brasília no Senado, naturalmente a gente se distancia um
pouco, mas nunca me esqueci dos cristianopolinos. Todas as vezes que chego ali
me sinto tomado por uma emoção especial e agradeço a Deus por ter nascido e ter
me tornado gente aqui [contou da transição da cidade onde viveu até os sete
anos à fazenda onde morou até os quinze]. Devo e procuro ser agradecido até a
morte à Cristianópolis.
Cristianópolis tem uma
localização muito interessante. É ligada por vias diretas à Brasília, capital
federal; Goiânia, capital do Estado e tem acesso rápido à divisa com Minas
Gerais. Isso facilita a sua conexão com outras grandes capitais como São Paulo,
por exemplo. Mesmo assim a cidade não cresceu. O que falta para Cristianópolis
crescer?
Essa
indagação me foi feita enquanto governador, à respeito de um projeto para que
Cristianópolis pudesse alcançar um desenvolvimento diferenciado. Pense bem:
hoje a grande preocupação das autoridades constituídas não é simplesmente com o
tamanho da população da cidade, é com a sua qualidade de vida. Muitas vezes uma
cidade com 5 mil habitantes é muito mais feliz que uma de 1 milhão. É uma
questão de concepção. Eu pergunto: O povo de São Paulo é mais feliz que o povo
de Goiânia que tem um décimo de sua população? Não. O povo do Rio de Janeiro é
mais feliz que o povo de Cristianópolis? Não. A vida no Rio hoje é inviável. É
difícil. Não se lembraram de conduzir o crescimento da cidade dentro de um
parâmetro para o futuro e deixaram que as favelas tomassem conta das encostas.
Estão ali desafiando o crime, suas autoridades. Essa preocupação de tornar
Cristianópolis a grande cidade populosa e de que Goiânia também fosse, eu nunca
tive. Conduzi o processo administrativo de forma com que o estado inteiro
tivesse qualidade de vida. Levamos asfalto para praticamente todas elas,
construímos ginásios de esportes, salas de aula e por aí afora. A nossa visão
era outra nesse sentido. Hoje eu tenho muita alegria em chegar numa cidade como
Cristianópolis e ver o povo alegre porque não se defronta com problemas
seríssimos. Pensando assim, tenho a certeza de que não fui negligente com
Cristianópolis.
Falamos de crescimento
e desenvolvimento econômico porque isso é essencial ao indivíduo que precisa
gerar renda para sobreviver. Cristianópolis tem um recurso muito importante e
que talvez influencie, mesmo que minimamente, a economia do Estado, que é a sua
bacia leiteira. Ela é muita vasta e importante principalmente pela cooperação
com outras produções daquela região. O senhor concorda?
Isso
é verdade. Tanto que nós levamos energia elétrica para todas as propriedades
rurais de Cristianópolis. Na época fui buscar recursos no Japão para que a
comunidade rural tivesse conforto, pudesse preparar alimentos para os animais,
colocar resfriadores de leite... Tudo teve um começo. Se fiz para outras
cidades, fiz também para cá. É uma cobrança que se faz. Enquanto governador,
nunca fiquei esperando que o Governo Federal adivinhasse o que Goiás precisava.
Eu ia cobrar do Presidente da República. Ao conhecer um projeto no Ministério,
eu ia atrás dele. Não terão os ex-prefeitos, falhado, em buscar o socorro para
a realização de projetos assim? As autoridades locais precisam estar atentadas,
precisam cobrar das autoridades superior e não podem debitar isso a uma só criatura.
Além da gestão, o que a
própria população pode fazer para que a cidade se desenvolva economicamente?
O
que cada cidade, seja de Goiás, seja do Brasil, precisa fazer, é procurar distanciar
do seu meio as divergências, o radicalismo político, fazer com que o
comportamento social seja tomado sobretudo de amor e respeito, porque a
comunidade unida pensa mais, decide mais e tem mais força para exigir das
autoridades superiores o cumprimento de seus deveres nas suas respectivas
funções.
Esse último decênio foi
muito importante para o Brasil que experimentou um desenvolvimento único e
real. Foram inúmeros os avanços verificados no país nas mais diversas áreas com
os governos Lula e Dilma. Goiás acompanhou esse desenvolvimento?
Que
Goiás se desenvolveu e vem se desenvolvendo é uma realidade. Não se pode
ocultar. Mas uma verdade não tem sida exposta. Porque Goiás tem crescido?
Cresceu a partir do momento que nós dotamos o Estado de energia elétrica
suficiente para que as indústrias aqui se instalassem. Cresceu quando nós,
levando indústrias pesadas a todas as regiões, instituímos o programa Fomentar
que foi o mais ousado programa de incentivo à industrialização que se tem
notícia. Construímos estradas, sim, porque sem elas ninguém planta, sem elas as
indústrias não chegam no interior por não terem como movimentar sua produção.
Naquela época nós avançamos extraordinariamente na área do ensino, não deixamos
ninguém fora das salas de aula por falta de escola. Criamos mais de 30 cursos
superiores em Goiás, enfim. Fomos nós que criamos toda essa infraestrutura
atual. Daquela época pra cá é que Goiás passou realmente a experimentar o
crescimento econômico.
Com esse pensamento
crítico, amplo e uma carreira política de mais de 55 anos, é notório que o
senhor ainda não mostrou toda a sua disposição. Isso significa que podemos
esperá-lo nas eleições do ano que vem?
Eu
não me tornei político por um fato qualquer. A minha carreira política só se
explica na área espiritual porque nascendo na roça, aprendi a trabalhar com
machado, com foice, a tirar leite e de repente venho pra Goiânia e me torno
político. Isso não foi uma circunstância qualquer, foi um dom de Deus. Eu acho
até que Deus me dotou desse dom e me fez nascer numa comunidade cristã voltada
pra Ele para me mostrar isso. Portanto, eu só vou deixar a política quando Deus
me chamar para o seu reino. Agora, me candidatar, é outra coisa. Duas vezes eu
quis ser governador: foi em 1982 e 1990. Arrebentei cercas políticas para
conquistar o governo. Fui candidato outras duas vezes, mas porque não tínhamos
quem disputasse. Note que duas vezes eu fui porque queria deixar as marcas que
deixei como administrador, as últimas, foi para não deixar o partido sem representante.
Espero que o PMDB encontre um bom nome no ano que vem porque, para eu ser
candidato a governador de novo, só não havendo um outro representante,
realmente, para disputar pelo partido.
A Folha de
Cristianópolis congratula com o seu aniversário a ser comemorado no próximo dia
22 de dezembro, agradece pela disposição e aproveita para pedir uma mensagem
pessoal à população da nossa cidade.
Em primeiro lugar quero cumprimentar todos os leitores e responsáveis pela instituição desse periódico, porque a publicação de um jornal não é fácil e quando a comunidade encontra pessoas preocupadas com a boa informação, isso é digno de louvor. No mais, a todos, busquem o desenvolvimento da cidade com espírito público, com amor e respeito ao semelhante. Uma cidade com formação cristã, como é Cristianópolis, nunca pode deixar de ser uma comunidade exemplar em todos os sentidos de vida para Goiás. Eu me orgulho e falo de boca cheia que sou de Cristianópolis e sei que todos ali têm essa alegria também. Que cada um possa servir a cidade com afeto, porque no momento em que nossas vidas forem norteadas por esse sentimento, acabam-se o radicalismo e as desavenças entre as pessoas. Assim, Cristianópolis, como outras cidades goianas e como outros municípios brasileiros, serão comunidades muito mais realizadas e felizes.
Foto: Nádia Ribeiro / Arquivo |